Meus escritos

O texto a seguir é uma adaptação, a parte destacada não foi de minha criação.

Morte por paz 

  Nos países subdesenvolvidos, mulheres prostituem-se por dinheiro, homens morrem de tanto trabalhar e crianças moram nas ruas. Não era diferente nas vilas mais pobres do Brasil, onde Zero Manivela e Ezequiel moravam. Suas vidas mais pareciam blasfêmias para quem ouvia as histórias, para quem não precisava roubar por sentir fome ou frio.
  Os dois meninos conheceram-se logo após ambos serem abandonados, Zero Manivela era o mais velho, mas com uma escolaridade extremamente baixa. Já Ezequiel parecia completar Zero, era mais novo. Apesar disso, seu nível intelectual era maior (talvez soubesse fazer contas simples e escrever algumas palavras).
  Em uma tarde chuvosa, os dois "ladrõezinhos", como eram chamados, foram fazer o que já era parte da rotina, procurar comida. Com uma vila tão pequena, era difícil algum vendedor não saber de suas façanhas. Isso nunca os impediu, afinal, morreriam de fome se não o fizessem e, naquelas condições, era apenas mais um exemplo de como poderiam partir.
  Ezequiel, sendo o mais inteligente, foi na frente. No três, dizia Zero Manivela. O menino mais novo já estava distraindo o vendedor, que era meio cego, mas escutava muito bem.
-Oi? Olá?
  Enquanto Ezequiel falava, Zero Manivela caminhava lentamente a vitrine de doces, com passos silenciosos e tremendo.
-Senhor? Está me ouvindo?
-Vá procurar o que fazer! - gritava o velho, rancoroso como um motor de carro velho.
Zero Manivela pegou rapidamente dois pedaços grandes de pão doce e, sem pensar, gritou o nome de Ezequiel, como um sinal para correrem.
  Ambos correndo pelas ruas de barro, com pão no bolso e um vendedor revoltado perseguindo o mais rápido que podia. Zero, sendo o mais velho e o mais ágil, estava na frente. Ezequiel temeu ser abandonado, e não passaria por isso novamente.
  "Zero Manivela deu meia-volta e embarafustou ladeira abaixo. Ezequiel não queria correr atrás dele, mas quando percebeu já estava correndo. Passaram por duas ruas, chegaram perto da avenida e nem perceberam. Alguém deu um berro, mas eles não ouviram, estavam surdos de raiva."
-Zero, Zero, chega! - cansou Ezequiel, parando de correr.
-Como é molenga, viu! Vamos acabar na cadeia assim!
Ezequiel magoou-se pelas palavras do companheiro, mas nada disse, apenas sentou ao seu lado, pegando o pão de sua mão.
  Uma enorme multidão formava-se a algumas ruas dali, os murmúrios tornavam-se cada vez mais altos, os meninos decidiram olhar o que era, torcendo para não estarem envolvidos.
  O chão de barro tornou-se mais avermelhado que o comum, uma espingarda antiga acompanhava a cor. O velho vendedor estava morto. Claro que ambos sabiam o que lá acontecera, mas em países subdesenvolvidos o silencio significava lucro.
-Vamos, Ezequiel, precisamos comer.

A chuva cessou, o céu ainda estava nublado e coberto de cores mortas. Naquela tarde, mais uma vez, alguém morreu para a sobrevivência de outro. 


Redação crônica

"Feminismo
s.m. Doutrina cujos preceitos indicam e defendem a igualdade de direitos entre mulheres e homens.
Movimento que combate a desigualdade de direitos entre mulheres e homens.
P.ext. Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, político, econômico), entre homens e mulheres.
Classe gramatical: substantivo masculino
Separação das sílabas: fe-mi-nis-mo
Plural: feminismos"
Todo ano, para a mulher fora do padrão, jornais e revistas são jogados em sua porta. A notícia é sempre a mesma. Mulheres de todas as idades, despidas e pintadas, gritando contra homens armados e uniformizados. Pobre mulher, ela parecia a única ali a achar uma parte daquela luta errada.
  Ela recolhe o jornal, entra em sua casa, toma seu café e vai trabalhar. Milhares de passos a sua volta, pesados, criticando o mesmo assunto do jornal. No começo, ela também questionava. Deveria ela estar trabalhando ali? Talvez algum homem exercesse melhor sua profissão. Eles, com sua inércia, crueldade e frieza, foram colocados acima delas. Eram mais fortes, corajosos, enquanto ela é rotulada por apoiar movimentos onde homens e mulheres são um só. Mas não, onde já se viu? São duas espécies totalmente diferentes, com progressos e medos diferentes.
  Então, depois de mais um dia cansativo de trabalho, ela voltou para casa,ligou a tevê. Quantas mulheres no jornal trabalhavam sem maquiagem? Quantos comerciais sobre roupas, academia e produtos onde prometem beleza eterna ela assistiu? A mulher fora do padrão, que não gasta tempo, dinheiro ou energia com as palavras da mídia, colegas e machistas, desliga a tevê e decide dormir. Claro, o que mais poderia fazer? Cada ano que passa parecia pior. Não, não adiantaria lutar por isso, ela vive em um país onde a educação não é valorizada. Sim, os homens também! A mulher fora do padrão sabe bem disso. Quantos homens já foram vistos por ela, totalmente desprezados? Talvez por serem magros demais, gordos ou simplesmente eles mesmos. Mas ela parece ser a única que se importa. As mulheres que dizem ser como ela, são aquelas do jornal, aquelas que gritam contra os homens -culpados são os homens armados treinados para nos proteger?-, tentam o agredir e o xingar.
  Quem diria que a mulher hoje em dia tem orgulho de se identificar como feminista? Ela pensava assim, a mulher fora do padrão, os dois ou três quilos a mais, sua mínima altura e cabelo encaracolado -quem decide que tipo de cabelo ela deve ter?-. Sim, ela já está cansada, é difícil mudar a mente de alguém ignorante, mas ela nunca desistiu, por jornal, revista ou homem algum.





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